quinta-feira, 14 de abril de 2011

O Quadro do Palhaço - Fernando Ferric

O QUADRO DO PALHAÇO


Festa de aniversário na casa de André, ele estava completando 8 anos, entre os vários presentes, um recebeu atenção especial, um quadro com a gravura de um palhaço, ele usava um chapéu amassado com uma flor morta e tinha uma fisionomia triste.

André não tinha mais tranqüilidade para brincar no seu quarto, se sentia vigiado pelo estranho quadro pendurado na cabeceira da cama. Ele tinha a impressão que o palhaço se mexia enquanto ele brincava.

O pior era quando anoitecia, na hora de dormir ele ouvia estranhos ruídos que pareciam vir do quadro, levantava, ligava a luz e lá estava o palhaço com o semblante triste, mas ao mesmo tempo um sorriso cínico. O medo era tão grande que um dia ele teve um terrível pesadelo com o palhaço, acordou no meio da noite, e foi correndo para o quarto da sua mãe.

Acordou disposto a dar fim naquele medo, pegou o quadro colocou no chão e ficou observando aquela gravura, era como se o palhaço tivesse vida. André pegou uma faca e começou a raspar os olhos do temível palhaço, sem os olhos ele não parecia tão terrível assim. Quando sua mãe chegou e viu o que ele tinha feito com o quadro ficou muito nervosa, lhe deu uma surra, e o pior, deixou André de castigo trancado no quarto.

Ele não sabia o que fazer, ele sentia a presença do palhaço no quarto, se apagava a luz ficava vendo coisas, se acendia lá estava a gravura, agora sem olhos e com um ar de vingança. Pegou o quadro e colocou embaixo da cama, deitou e pensou que tinha achado uma boa solução, mas começou a ouvir uma risada, bem baixinha, como se estivesse provocando.

- Lá, lá, lá lá lá. Não estou ouvindo nada! – começou a cantar com as mãos tampando os ouvidos.

André sentiu um forte puxão em seus braços.

- Agora você vai ouvir!!! - disse o palhaço em cima de sua cama, o garoto não podia acreditar que o palhaço estava na sua frente, não era uma gravura, era real, seu rosto era sombrio, sua maquiagem estava desbotada, usava uma roupa rasgada, fétida, era como um circo de horrorres.
- Me larga, seu palhaço horroroso... Me larga!!! – gritou André se debatendo.


O palhaço continuou a segurá-lo com muita força, e dava gargalhadas, de seus olhos escorriam um líquido negro, o palhaço ergueu a mão e enfiou com toda força no peito de André. Ele sentiu o amargo sabor da morte em seus lábios, não podia se entregar, não podia deixar sua vida escapar, de repente um clarão, e uma forte sacudida em seus ombros.

- Acorda, filho! Acorda! Calma... Foi apenas um pesadelo." – disse sua mãe.

A mãe de André deixou ele dormir no quarto dela. Mas ele sabia que seria só naquela noite, e teria que enfrentar o quadro novamente.

Na escola, ao contar o que aconteceu, seus amigos lhe deram a idéia de queimar o quadro.

Com um saco de lixo eles entraram no quarto sem que a empregada percebesse, pegaram o quadro e botaram dentro do saco.

- Onde vamos queimar? – perguntou André aos seus colegas.
- Na minha garagem! Vamos botar fogo nesse palhaço! – respondeu Fernando.

Jogaram muito álcool, pularam em cima do quadro, chutaram a gravura do palhaço, cuspiram em cima dele, um verdadeiro exorcismo.

-Taca fogo, André! Queima ele!" – gritou Fernando

André riscou o fósforo e jogou em cima do quadro. As labaredas consumiram o quadro, a gravura se desmanchou até não restar mais nada. Todos comemoraram. Menos a mãe de André que ficou revoltada ao saber que o garoto tinha destruído o quadro que seu avô lhe dera.

Era festa de aniversário de Fernando, já tinha passado alguns meses após o acontecido, todos os amigos reunidos inclusive André, muitos presentes chegaram, carrinho de controle remoto, vídeo game, bola, mas faltava desembrulhar um presente, ninguém sabia quem tinha dado aquele, estava encostado na parede, embrulhado com um papel marrom.

- Oba! Vamos ver o que é esse! - gritou Fernando chamando os colegas. -Acho que é um jogo! – disse André. - Não! Eu acho que é um quebra-cabeça!

E ao desembrulhar a terrível surpresa...

- O quadro do palhaço!!!!

Autor: Fernando Ferric

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Arame Farpado - Hell

ARAME FARPADO

Ela caminhava lentamente para seus passos não serem ouvidos, arrastava a trouxa com cuidado atrás de si, a coisa envolvida em trapos ainda tinha leves espas mos e fazia um barulho como um de um sapo coaxando.

Ninguém poderia descobrir seu segredo, ninguém poderia saber que aquela trouxa tão imunda e desforme já fora um ser humano. Isso seria uma tragédia,uma desgraça para sua vida amaldiçoada.

Ela não fazia por mal, nunca quis ferir ninguém, a primeira vez fora sem querer, estava brincando com um amigo, quando esse se desequilibrou e caiu da ponte; ela tentou segurá-lo, mas ele escorregou; ela ficou vendo os carros passarem por cima do corpo, depois a ambulância chegou e ela sumiu... Ninguém nunca soube.

Então se tornou um vício, era como se tudo o que ela tocasse morresse. Mas o pior não era isso; o pior é que ela gostava de ver as coisas morrerem, era tão bom, melhor ainda quando as vitimas reagiam...Ver o medo em seus olhos, a raiva, sentir os golpes que elas davam enquanto morriam, ouvir os gritos e os gemidos, então o silêncio...Ah! aquele delicioso silencio mórbido.
Ela não conseguiria viver sem nada disso...Por isso nem tentara fugir de seu "dom".Encontrara um pequeno campo ao lado de uma indústria de produtos de limpeza. Era perfeito. O cheiro forte encobriria o fedor putrefato dos cadéveres e os tóxicos logo se encarregariam de consumir o que restasse das vitimas.

Pegando uma pá detrás de um arbusto, ela cavou outra cova, suas mãos já estavam cheias de calos por esta tarefa repetitiva, já estava bem funda em pouco tempo. Abrindo o saco, ela jogou seu conteúdo dentro da cova, só se sabia qual era a cabeça por causa do monte de cabelos cor de avelã, já que o resto era algo retorcido e vermelho.
Ela fez uma careta quando percebeu que um dos olhos grudara em seu sapato, limpou com a pá. Tirou da bolsa o martelo, a arma do crime, que sempre enterrava junto com a vitima; jogou-a no buraco, tampando-o com terra logo em seguida. Acabara, era só isso.
Voltou para casa, seus pais ainda estavam dormindo, pegou uma faca no armário, esquentou-a no fogão, levantou a manga do moleton revelando o braço cheio de cicatrizes. Marcou com a faca incandescente mais uma cruz no braço, era seu modo de dizer adeus a mais aquela pessoa que alimentara seu vício. Pegou os documentos da vítima, guardando-os numa caixa de "Sonho de Valsa" que tinha no armario atrás das calças jeans. Olhou o relógio,2:35 da manhã, fora rápida, ainda dava tempo para mais um...

Ela entrou devagar e sem fazer barulho, já estava especialista em quebrar janelas sem ruído. Se dirigiu ao quarto onde o casal dormia, tirou algo da bolsa e segurou firmemente em ambas as mãos,uma luz se acendeu atrás dela. Ela mal teve tempo de olhar, seu rosto foi envolvido por algo que ela reconheceu como arame farpado que lhe cortava e entrava em sua boca. A dor a envolveu, era interminável, o jovem tinha força e a mantinha no chão enquanto puxava e puxava aquele fio cheio de pontas. Via a surpresa e a dor no rosto juvenil dela,devia ter uns dois anos a menos que ele próprio. Não demorou muito para que ele dividisse aquele rosto bonito em dois,o sangue tinha formado uma poça no chão,ele levo o corpo até um baú em seu quarto,em breve a enterraria ou jogaria em um lago, o que aparecesse primeiro, escondeu a bolsa dela na antiga caixa de seu playstation atrás das roupas de futebol. Limpou o sangue com o pano de chão,o lavou e o estendeu no varal.
Começara há algum tempo, não tinha a menor intenção de matar, mas o ladrão invadira a casa e apontara uma arma para sua irmã, que dormia; ele bateu com um vaso de ferro na cabeça do idiota, batera forte demais e o homem caíra; ele de teve que despedaçá-lo para que coubesse no baú, a partir de então se tornara um vício,algo de que ele precisava, algo louco e insano que o dominava.
Ele trancou o baú esperando o amanhecer, voltou a dormir...Era assim, um dia da caça outro do caçador.

Autora: Hell

Óleo de Cão - Ambrose Bierce

ÓLEO DE CÃO

Meu nome é Boffer Bings. Nasci de pais honestos, em um estilo de vida dos mais humildes. Meu pai era fabricante de óleo de cão, e minha mãe tinha, ao pé da igreja da vila, um pequeno gabinete, onde eliminava bebês indesejados. Já na minha infância aprendi os processos da indústria. Não apenas ajudava o meu pai procurando os cães para seu caldeirão, como também minha mãe me encarregava freqüentemente da missão de me desfazer dos despojos de seu trabalho no gabinete. Para me desincumbir desse mister, às vezes precisei de toda minha natural inteligência, posto que todos os agentes da lei da vizinhança se opunham aos negócios de minha mãe. Já que os agentes não haviam sido eleitos pela oposição, o assunto nunca tinha injunções políticas: simplesmente faziam-no por fazer.

Naturalmente, o trabalho de meu pai – fabricação de óleo de cão – era menos impopular, embora os proprietários dos cães desaparecidos o olhassem às vezes com desconfiança, o que, em certa medida, se refletia em mim. Como sócios, à escondida, tinha meu pai os médicos da cidade, que quase nunca aviavam uma receita sem que nela constasse ao que eles orgulhosamente designavam “Ol. can.”, o remédio mais valioso que já se houvera descoberto. Mas a maioria das pessoas não está disposta a fazer sacrifícios pessoais pelos aflitos, e era evidente que muitos dos cachorros mais gordos da cidade eram proibidos de brincar comigo. Isto feriu a minha sensibilidade juvenil e, certa feita, dirigiram-se a mim para fazer-me de pirata.

Olhando para trás, para aqueles dias, não posso, às vezes, evitar o arrependimento, pois, levando indiretamente os meus queridos pais à morte, fui o autor dos infortúnios que profundamente afetaram o meu futuro.

Certa noite, ao passar à frente da fábrica de meu pai, quando vinha do gabinete de minha mãe, trazendo um exposto, vi um guarda que parecia observar atentamente os meus movimentos. Embora bastante jovem, eu já aprendera que os guardas só acorriam aos fatos mais repreensíveis, de molde que dele me esquivei, enfiando-me na fábrica de azeite por uma porta lateral, que calhou de estar aberta. Travei a porta de uma vez e fiquei só com o meu morto. O meu pai já se recolhera. A única luz daquele lugar provinha do forno, que ardia intensamente sob um dos caldeirões, espalhando uma profunda luz e lançando reflexos rubros nas paredes. No caldeirão, o óleo estava em indolente ebulição, empurrando, ocasionalmente, um pedaço de cão para a superfície. Fiquei a esperar que o guarda se retirasse. Mantive no meu colo o corpo nu da criancinha e lhe acariciei ternamente o cabelo curto e sedoso. Ah, como era bela! Já naquela tenra idade eu gostava muitíssimo das criancinhas e, ao contemplar aquele anjinho, quase desejei em meu coração que a pequena ferida vermelha de seu peito, obra de minha querida mãe, não fosse mortal.

O que eu pretendia, como de costume, era jogar a criança ao rio, que a natureza sabiamente nos legara para tal fim, mas, naquela noite, com medo do policial, não me atrevi a deixar a fábrica de azeite. “Afinal – disse com os meus botões – , não acho que teria importância se eu vier a entorná-la no caldeirão. O meu pai nunca irá distinguir os seus ossos dos ossos de um cachorro. E as poucas mortes que pudessem resultar da administração de outro tipo de azeite, no lugar do incomparável 'Ol. can.', não serão percebidas em uma população que cresce tão rapidamente". Em suma, dei o meu primeiro passo para o crime, o que me trouxe sofrimentos indizíveis, e entornei a criança no caldeirão.

No dia seguinte, para minha surpresa, meu pai, a esfregar as mãos de satisfação, informou a mim e à minha mãe que obtivera o óleo de qualidade nunca vista, e que este era o parecer dos médicos aos quais levara amostras. Ele acrescentou que não tinha ideia de como lograra tal resultado, pois tratara os cães como sempre o fizera, em todos os aspectos, e eram eles de uma raça comum. Considerei que era o meu dever lhes ofertar uma explicação e teria certamente contido o ímpeto de minha língua se pudesse prever as consequências. Os meus pais, lamentando a anterior ignorância sobre as vantagens de combinar os seus afazeres, adotaram medidas para reparar o erro. Minha mãe mudou o seu gabinete para uma ala do edifício da fábrica e as minhas tarefas com relação ao ofício cessaram. Já não mais precisavam de mim para que me desfizesse dos pequenos supérfluos e não remanescia a necessidade de atrair os cães à condenação, pois o meu pai renunciou completamente a eles, embora ainda ocupassem o honroso nome no azeite. Assim, subitamente atraído para o ócio, poder-se-ia esperar que eu me tornasse uma pessoa viciosa e dissoluta, mas não foi isso o que aconteceu. A santa influência de minha querida sempre recaía sobre mim, protegendo-me das tentações que assediam a juventude, e, além disso, meu pai era diácono de uma igreja. Ai de mim! Por culpa minha, estas estimáveis pessoas iriam evoluir a um fim tão cruel!.

Ao experimentar um proveito duplo com os seus negócios, minha mãe se entregou ao mister com uma assiduidade nunca dantes vista. Não apenas se desfazia dos bebês indesejados que lhe eram entregues, como acorria às ruas e becos à procura de criancinhas maiores e mesmo adultos que lograva atrair à fábrica. Também meu pai, apaixonado pela melhor qualidade do óleo produzido, fornia os seu caldeirões com diligência e zelo. A conversão de seus vizinhos em óleo de cão tornou-se, em suma, a paixão de suas vidas. Uma ganância absorvente invadiu suas almas e ocupou o lugar da esperança que tinham de alcançar o paraíso, que, de sua feita, também os inspirava.

E se atiraram tão vivamente à empresa que uma reunião pública foi realizada, na qual adotaram-se resoluções que os censuravam severamente. Ele foi intimado pelo presidente: quaisquer incursões contra a população seriam recebidas com hostilidade. Meus pobres pais saíram da assembleia com o coração partido, desesperados e, creio eu, não completamente sãos. Considerei prudente, de toda forma, não entrar com eles na fábrica de óleo naquela noite e fui dormir lá fora, num estábulo.


Cerca de meia-noite, algum misterioso impulso ordenou que eu me levantasse e espreitasse pela janela do quarto do forno, onde eu sabia que meu pai já dormia. O fogo ardia em fulgores, como se esperasse por uma colheita abundante no dia seguinte. Um dos enormes caldeirões fervia devagar, dotado de um misterioso aspecto de auto-contenção, como se aguardasse o momento de transbordar a sua total energia. Mas meu pai não estava na cama. Levantara-se e estava com roupas de dormir. Fazia um nó numa corda vigorosa. Pelos olhares que dirigia à porta do quarto de minha mãe, deduzi perfeitamente o propósito que ele tinha em mente. Mudo e imóvel, cheio de terror, eu nada pude fazer em matéria de prevenção ou alerta. Subitamente, a porta do quarto de minha mãe se abriu sem fazer ruído e eles se defrontaram, ambos aparentemente surpreso. A senhora também estava de camisola, e levava, na mão direita, a sua ferramenta de trabalho: uma longa adaga de lâmina estreita.

Ela foi, igualmente, incapaz de negar-se ao lucro que a atitude hostil dos cidadãos e a minha ausência lhe permitiam. Por instantes, eles contemplaram mutuamente os olhos em chamas e, então, lançaram-se com indescritível fúria um contra o outro. Como demônios, lutaram pelo cômodo todo. Meu pai maldizia. Minha mãe gritava. Ela tentava cravar-lhe a adaga. Ele forçava por estrangulá-la com as grandes mãos. Não sei por quanto tempo tive a desgraça de observar este desagradável momento de infelicidade doméstica, mas, enfim, depois de um esforço mais vigoroso que o ordinário, os adversários subitamente se separaram.

O peito de meu pai e a arma de minha mãe exibiam sinais de contato. Por instantes, olharam-se da forma mais hostil. Então meu pobre e ferido pai, sentido sobre si a mão da morte, saltou à frente e, fazendo pouco da resistência que a minha mãe oferecia, tomou-a nos braços, conduzindo-a ao caldeirão fervente. E, reunindo as suas últimas forças, saltou com ela! Em um momento, ambos tinham desaparecido e adicionavam seu óleo àquele do comitê dos cidadãos que os haviam convocado, no dia anterior, à reunião pública.

Convencido que estes funestos acontecimento obstruíam todos os caminhos para uma honrável carreira naquela cidade, abandonei-a em prol da famosa vila de Otumwee, onde escrevi estas memórias com o coração repleto de remorsos por um ato tão imprudente e que envolve um deveras catastrófico desastre comercial.

Autor: Ambrose Bierce

Tradução: José Jaeger

terça-feira, 12 de abril de 2011

Midnight Syndicate - Our of the Darkness


Album lançado em 2006 pela banda Midnight Syndicate. Para quem não conhece, eles são especialistas em fazer trilhas sonoras para filmes e seriados de terror. Vale a pena dar uma conferida. Este album, seria uma coletânea dos melhores albuns da banda.

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Sozinha - Rvânia

SOZINHA

Sentada defronte ao computador, Evelyn não sentia o tempo passar. Como acontecia todos os dias, entrava nas salas de bate-papo e quando encontrava um gatinho interessante com quem teclar, perdia-se no tempo, embalada pelo “tec-tec-tec” nas teclas. Porém, naquela noite existia algo de diferente no ar.

Ao entrar, encontrara Fábio, internauta assíduo, com quem já teclara várias outras vezes, mas por quem perdera o interesse após receber uma foto. Ele não era seu tipo, mas, na falta de alguém interessante, ia passando o tempo a trocar mensagens com ele mesmo: “Melhor que ficar só”, pensou.

Algumas horas depois, já entediada com a conversa de Fábio, um nick que entra na sala chama sua atenção: Alone. Quando ainda pensava em enviar uma mensagem, ele foi mais rápido:

- Alone fala para Evelyn: Oi. Estava à sua procura.

O coração de Evelyn disparou... Um única frase daquele estranho conseguiu perturbá-la a ponto de não saber o que responder. Com medo que ele saísse da sala por não receber resposta, enviou uma mensagem rápida:

- Evelyn fala para Alone: A gente se conhece? De onde?

- Alone responde para Evelyn: Do universo. Estive à sua procura por toda a eternidade...

Mas que imediatamente, Evelyn dispensou Fábio e entrou no reservado com o desconhecido. Ele fazia seu coração disparar a cada mensagem enviada. Falava de coisas que ela sempre desejara ouvir, adivinhava seus gostos, escrevia trechos de poesia que ela adorava. E as horas iam passando como nuvens, cada vez mais Evelyn se prendia aquele nick, aquelas palavras maravilhosas que surgiam na tela.

“Não posso perdê-lo de vista. Preciso pegar o número do telefone ou o e-mail dele. E se cair a conexão agora? Talvez eu nunca mais consiga encontrá-lo outra vez, não posso perdê-lo” – pensava angustiada, enquanto lia as maravilhas escritas por ele que surgiam na tela.

Evelyn já havia perdido a conta do número de vezes em que fantasiara encontrar alguém assim na net. Em sua mente adolescente, sentia-se a única menina na face da terra que ainda não havia encontrado sua cara metade. E agora, lá estava ele. Não o deixaria fugir. Em seus devaneios, era tudo tão simples. Eles trocariam e-mails, se falariam por telefone e marcariam o encontro que os uniriam para sempre.

Não poderia perder mais tempo:

- Evelyn fala reservadamente com Alone: Me diga seu e-mail e seu telefone. Tenho medo que a conexão caia e eu o perca. Não suporto a idéia de não encontrá-lo nunca mais, quero lhe conhecer, lhe encontrar. Você me conquistou... e ainda nem sei o seu nome.

A resposta foi imediata:

- Alone fala reservadamente com Evelyn: Não me perderá nunca... lhe busquei por muito tempo e não a deixarei mais ir. Você é e sempre foi minha.

Um arrepio percorreu o corpo da garota, as palavras penetraram profundamente em seu ser, fazendo-a sentir até mesmo um pouco de medo, sentimento este que confundiu com paixão.

- Evelyn fala reservadamente com Alone: então, quando vamos nos conhecer? Não quero esperar muito.

- Alone fala reservadamente com Evelyn: Para nos conhecermos basta que você me abra a sua alma e as portas de sua casa... No momento em que você fizer isso, estarei com você para sempre.

Sorrindo e achando aquilo tudo muito romântico, Evelyn respondeu sem demora:

- Evelyn fala reservadamente com Alone: Pois então, vem. Estou te esperando... meu coração e minha alma já te pertencem. As chaves da porta de minha casa e de minha alma estão em tuas mãos agora... vem, meu príncipe.

Quase no mesmo instante em que enviou a mensagem, Evelyn sentiu algo estranho, como se estivesse ficando dormente. Um calor acompanhado de um suor frio percorreu seu corpo e ele assumiu um peso descomunal, impedindo-a de se mover. Enquanto tentava sair daquele estranho torpor, viu um vulto negro saindo da tela do computador. Um vulto coberto com vestes negras que aumentava de tamanho e aproximava-se de seu rosto. Apavorada, Evelyn podia sentir o bafo pútrido da criatura que não emitia qualquer som, mas estava ali à sua frente, sem se mover, apenas expressava um olhar penetrante e feroz, como se a criatura desejasse consumir por completo sua alma.

Apesar de temer por sua vida, Evelyn não conseguia liberta-se do torpor, da dormência que tomava seu corpo. Em sua mente, gritava e esperneava de pavor, mas na realidade continuava estática, nem mesmo fechar os olhos e parar de olhar para aquela coisa horrenda ela conseguia. A criatura não tinha fisionomia definida, era como um buraco negro, totalmente desprovido de luz e com aqueles olhos vermelhos e injetados de ódio... Ao sentir um toque, como se uma mão, que não existia no espectro, lhe tocasse os braços, Evelyn reuniu forças que até então desconhecia ter e saltou para frente, sentindo como se estivesse atravessado aquela coisa, como se ao fazer isso o espectro passasse por dentro dela, tocando seus órgãos internos, absorvendo sua alma. O choque trouxe-a de volta à realidade, fazendo-a correr em direção a porta do quarto. Girou a maçaneta e viu que estava trancada e apesar de girar a chave, nada acontecia. Num desespero total, começou a gritar, olhando para a criatura e imaginando que a qualquer momento ela iria aproximar-se outra vez. Gritou com toda sua força, sabendo que os pais e o irmão estavam no quarto ao lado e iriam socorrê-la. Mas, nada acontecia, ninguém aparecia para ajudá-la.

Evelyn percebeu, então, que seus gritos jamais seriam ouvidos, pois era como se seus gritos estivessem indo para outra dimensão, uma sintonia diferente. Em desespero, viu o espectro aproximar-se cada vez mais... pode ver um rasgo naquela espécie de fumaça negra que assemelhava-se a um sorriso cruel, de onde saía um fedor putrefato que chegava às suas narinas. Num último gesto de desespero, correu para a janela que se encontrava aberta, e pensando apenas em livrar-se daquele horror, jogou o corpo no ar, sem nem lembrar-se que estava no 13º andar...


Autora: Rvânia